Personificação dos Sentimentos


Cômodo escuro. Ambiente quente, toque quente, sentimento fervente. Nós. Um beijo. Sorriso seu, gargalhada minha. Olhos predadores. Boca descompromissada, vagando sem rumo. São as coisas mais marcantes que me lembro, do que me lembro, dentre tantas fases que passamos.
Nossos olhares eram como duas crianças brincando de pega pega, os meus olhos, fugiam, e os seus, corriam atrás.
Lembro-me perfeitamente do meu momento preferido com você, e ele não envolveu pele, nem boca, nem sussurros, muito menos suspiros. Se tratava de poucos minutos de silêncio, que se estenderam pela cama, que estávamos sentados, como lençol. 
Eram apenas três personagens, nós e a quietude, o clima totalmente adequado e propício para causar desconforto, mas com você foi diferente, não houve desconcerto de nenhuma parte.
Pela primeira vez, seus olhos sustentaram os meus, que já estavam cansados de se esquivarem. Dizem que o olhar é porta da alma, e apesar de não conseguir nenhuma resposta em seus olhos escuros, encontrei conforto e segurança, e de alguma maneira, totalmente subjetiva e intangível, me deparei com verdade, sanando minhas dúvidas.
Naquele silêncio eu te descobri de forma desnuda, e o nosso encontro foi tão bonito, e ao mesmo tempo, direto e esclarecedor. O relógio havia parado, e eu estava perdida, tinha mergulhado de cabeça, sem volta, me inundando por completa de ti, hoje duvido que tenha sido a coisa mais inteligente a se fazer, mas naquele momento, naquela hora, naqueles poucos minutos, que eu fiz deles dias, foi sem duvida fascinante, eu estava fascinada, fascinada por você.
Me permiti te tocar com os olhos, já que sou caracteristicamente uma pessoa observadora, detalhista, e minuciosa (em alguns casos), percorri seus cabelos castanhos e curtos, sua barba mal feita, sua boca que eu tanto gosto, e então parei, um sorriso me escapou pelo canto de meus lábios, e eu ainda lutava para esconder o fato de eu estar ridiculamente sem chão, na realidade, era esse o efeito que você tinha sobre mim, todas as vezes que me esquentava com seu olhar íntegro.
Era um momento comum, que eu o transformei em um dos nossos momentos mais especiais, não que você saiba (talvez, agora), quando o ponteiro voltou a ativa de maneira tão ligeira, meu coração voltou a bater, voltei a respirar, e nos desprendemos de uma conexão.
Tudo voltou ao normal, continuei a ser a garota que omite os sentimentos, e você a fingir ser algo que nunca foi, o único problema, e meu maior problema, é que até hoje, não consegui recuperar a perda da sua enchente em mim, e juro que ainda sinto resquícios de água fazendo marés, para perturbar e confundir meu coração.

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