(In)decifrável


Nesse fim de dia cobri meu rosto com noite e sangue, deixando um puro contraste entre olhar e fala. Parecia ter finalmente encontrado algum sentido pra vida, vesti a roupa que mais me agradava e parei em frente ao espelho... Foi ali que me perdi.
Minhas emoções e sentimentos sempre estiveram longe de ser algo certo, de caber em uma definição, são como fios emaranhados atrás da estante, de todos aparelhos eletrônicos que lá colocamos, mas nunca pensei que fosse capaz de me perder em uma tempestade, onde as nuvens fazem de parte de mim, e querem parar de chover. Por isso elas trovoam a pedido de socorro, e acidentalmente causam relâmpagos e raios afastando todos a sua volta, quando não os destroem ou machucam, anulando qualquer possibilidade de salvação.
Sou uma escritora romântica, mas precisava parar de falar tanto de você e começar a derramar um pouco de mim nessas linhas, aliás, você já não existe mais, não aqui. Aqui existem poucas coisas das quais sei nomear: medo, ansiedade, insegurança, preocupação, dúvida, tristeza, angústia, frustração, timidez e pessimismo... Estas estão tão bem alojadas dentro de mim, que já são como órgãos dos quais não sei viver mais sem, mas ainda tento inutilmente cuspi-los todos os dias. Diariamente me dopo, são três comprimidos diferentes, o primeiro é para acelerar o tempo, o segundo é para resolução dos meus problemas, e o terceiro é para esquecer quem já não existe mais, não aqui. Mas o tempo nunca passa, os problemas só aumentam, e o que era para esquecer, é uma clara e viva lembrança.
O mal se personifica e torna-se uma pessoa próxima, confiável, e me entrego de braços abertos, o abraçando com fervor. O tamanho do desespero não mede a quem agarrar, e esse é o meu erro.
A dor sobrepõe a razão, e me vejo em uma imensidão, uma imensidão de vazio, e eu me encontro no centro de tudo isso, sou o caos. Estou perdida dentro de mim, porque não sei me decifrar, e me tornei autodestrutiva!

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